top of page

ARTIGO - A espiritualidade sinodal

Dom João Santos Cardoso

Arcebispo de Natal


A sinodalidade não se trata apenas de um método ou de uma metodologia pastoral, mas de uma espiritualidade, sustentada pelo Espírito Santo e enraizada na vivência do Evangelho, que dá suporte e rosto a um estilo eclesial, a Igreja Sinodal. Segundo o Documento Final do Sínodo dos Bispos, a sinodalidade é, antes de tudo, "uma disposição espiritual que permeia a vida cotidiana dos batizados e todos os aspectos da missão da Igreja" (Parágrafo 43). Isso significa que a sinodalidade não se reduz a um mecanismo organizacional ou a um simples modelo de governança, mas expressa a forma de ser Igreja, baseada na comunhão, participação e missão.


A espiritualidade sinodal brota da ação do Espírito Santo, que nos chama a discernir Sua voz, pois Ele fala em tudo e em todas as coisas. Além disso, exige a escuta da Palavra de Deus, a contemplação, o silêncio e a conversão do coração (Documento Final, n. 43). Esses elementos são essenciais para que a sinodalidade não seja vivida apenas como uma estratégia administrativa, mas como um autêntico modo de ser Igreja, em comunhão com Cristo e com os irmãos.


A experiência sinodal requer: escuta ativa – atender à voz de Deus e à realidade da comunidade com humildade; prática do amor mútuo – viver concretamente a unidade por meio do serviço e da reconciliação; ascese e perdão – cultivar paciência e disponibilidade para perdoar e ser perdoado, reconhecendo a ação do Espírito em todos (Documento Final, n. 43). Sem esses pilares, a sinodalidade corre o risco de ser reduzida a um modelo burocrático, perdendo sua essência espiritual.


O Documento Final do Sínodo destaca que a renovação da comunidade cristã só é possível quando se reconhece a primazia da graça. Sem uma profunda espiritualidade tanto pessoal quanto comunitária, a sinodalidade corre o risco de se reduzir a um mero expediente organizacional (Parágrafo 44). Isso reforça que a sinodalidade não é apenas um modelo de gestão eclesial, mas uma vivência enraizada no discernimento, na oração e na abertura à ação de Deus.


Além disso, a conversação no Espírito, um dos métodos utilizados no processo sinodal, foi vivenciada como um caminho de transformação, gerando alegria e gratidão. Essa experiência mostrou que o diálogo sinodal não se trata apenas de um debate de opiniões, mas de um exercício de discernimento comunitário na escuta do Espírito (Documento Final, n. 45).


A espiritualidade sinodal sustenta a missão da Igreja no mundo. A sinodalidade e a missão estão intimamente ligadas: a missão ilumina a sinodalidade, dando-lhe sentido e finalidade e a sinodalidade leva à missão, tornando a Igreja mais capaz de anunciar o Evangelho com unidade e participação (Documento Final, n. 32).


A sinodalidade não é um fim em si mesma, mas um caminho de renovação espiritual e eclesial, que conduz a Igreja a um testemunho mais fiel do Evangelho. A missão torna-se uma expressão prática, viva e concreta de uma Igreja sinodal no coração do mundo.


A sinodalidade é essencialmente uma espiritualidade que nasce do Espírito Santo e se expressa na comunhão e corresponsabilidade dos fiéis na missão da Igreja. Essa espiritualidade exige conversão, humildade e abertura ao outro, para que a Igreja não apenas caminhe junto, mas caminhe sob a luz do Espírito.


Dessa forma, a sinodalidade não pode ser reduzida a uma estrutura administrativa ou a um conjunto de técnicas pastorais. Ela é a alma da Igreja em comunhão, um chamado contínuo à conversão e missão, como um testemunho vivo da ação do Espírito na comunidade cristã.

bottom of page