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ARTIGO - A moeda e a sinodalidade

Diác. Eduardo Bráulio Wanderley Netto

Paróquia de São Camilo de Léllis - Lagoa Nova - Natal


Quanto vale uma moeda? Depende do país, do formato, do material, da cor. Depende do nervosismo do mercado, dos loucos no poder, das guerras. Uma lista se abre. Mas, para entendermos o valor de uma moeda e suas lições para a sinodalidade, vou me valer de um conto, não de réis, mas literário. Quanto vale uma moeda?


Um dia, uma moeda denário entrou em crise. A cara se dizia o bem e acusava a coroa de ser o mal. Também a coroa se dizia ser o bem e que o mal era mesmo a cara. Na troca de acusações, se diziam detentoras da verdade.


Uma moeda de denário valia uns 100 reais. A cara, se achando mais importante que a coroa, dizia valer uns 90 reais e o restante era o outra face. A coroa, ainda mais ousada, dizia valer 99 reais e que a outra face nem valia existir. Mas, já que estava ali, no máximo valeria 1 real.


Depois de acusações mútuas, decidiram que estar juntas só faria mal para cada uma das faces. Procuraram um exímio cirurgião de moedas que usando da mais alta tecnologia conseguiu, num arriscado processo, serrar a moeda ao meio, deixando a cara de um lado e a coroa de outro. Agora sim! Felicidade!


Cara foi para um lado e coroa foi para outro. Cada uma em seu mundo imaginário de que valia os mesmos 100 reais originais.

Quando chegaram aos balcões de troca de moedas levaram o maior "balde de água fria": moeda pela metade não tem valor algum!


Agora temos um longo caminho pela frente para tentar fazer com que os dois mundos imaginários de cara e de coroa sejam desconstruídos e que cara e coroa percebam que juntas valem exatamente 100 reais, mas separadas não têm valor algum.


Fim.


Uma moeda multifacetada, como é a Igreja, não pode se dar ao luxo de se dividir. Todas as faces do poliedro são definidoras de sua natureza, mas seu valor intrínseco se faz no coletivo e não no individual. O cristianismo precisa ser amálgama forte para resistir às tentações das separações, seja por ideologias, seja por teologias.


Esse conto das faces da moeda é um convite para nós pensarmos sinodalmente. Um caminho junto com outro, antes de ser uma ameaça é uma grande oportunidade de enriquecimento. Ninguém deixa de ser cara ou de ser coroa por estar ligado a outra face. Mas nossa força vem do coletivo caleidoscópico das cores. A Igreja sinodal, se é que essa expressão não seja um pleonasmo, requer de nós um entendimento que Deus quis salvar os homens como um povo (cf. LG no. 9). O que queremos, então? "Que sejam um é o que eu quero mais. Que sejam um é o que eu quero mais. O meu amor é o que os torna capazes. Sem medo algum, se amem mais. Sem medo algum, se amem mais. O meu Espírito é quem age e faz." Se você não conhece essa música, procure encontrar. É uma repetição que nos faz lembrar a vontade de Deus para nossa unidade.


Que o bom Deus nos ajude! Vem, Senhor, sarar as feridas de teu povo. Aplacar toda desunião que brota de corações dilacerados. Cura-nos, Senhor, do mal do individualismo. Não tardeis, Senhor, em nos socorrer! Amém!

 
 
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