
Há quase cinco anos, o papa Francisco publicava sua carta apostólica Patris Corde por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja. Hoje retomo essa carta para evidenciar um aspecto importante na vida de S. José: o silêncio.
"O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai, narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. [...] A felicidade de José não se situa na lógica do sacrifício de si mesmo, mas na lógica do dom de si mesmo. Naquele homem, nunca se nota frustração, mas apenas confiança. O seu silêncio persistente não inclui lamentações, mas sempre gestos concretos de confiança" (no. 7).
A sombra projeta um objeto no chão, mas ela é silenciosa. Sua força está na forma, na luz, no lugar de descansar. Ao apresentar José como uma sombra silenciosa, vemos a qualidade de santo de um pai. Muitas vezes calado, mas com grandes atitudes de amor. Podemos mesmo identificar tantos pais em nossos dias que projetam essa sombra de Deus protetor, Deus guardião, Deus de amor.
Sobre o silêncio, se Maria é a virgem do silêncio, que nos ensina a silenciar, também José, sem que uma palavra tenha sido retida pelo testemunho bíblico, é o guardião do silêncio. O silêncio que tanto nos falta nesse tempo tão barulhento.
Rubem Alves tem um famoso texto que nos faz lembrar do quão desafiador é silenciar. E o silêncio é a alma da escuta. Nos diz o poeta: "Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o
que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade." (Trecho do texto Escutatória).
O silêncio da alma é a acolhida do outro e mesmo de Deus. Sem saber silenciar a alma, sem saber contemplar, sem saber ouvir a Deus, nos distanciamos do coração do Pai.
José, no seu silêncio e nos seus sonhos, dialogava com Deus. Que nós também aprendamos com ele a parar mais para ouvir o Pai e assim podermos formar uma sombra mais perfeita de Deus entre nós.
Feliz solenidade de São José!