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ARTIGO - É preciso um diagnóstico correto

Diác. Paulo Felizola

Paróquia de Nossa Senhora do Ó – Nísia Floresta

 

                No momento em que escrevo esta breve reflexão o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM) está reunido entorno de uma pauta que tem, dentre outros assuntos, discutir e definir uma nova taxa básica de juros para a economia brasileira. A expectativa é de que essa taxa seja majorada em mais um ponto percentual o que deve elevar a SELIC para o patamar, surreal, de 14,25% ao ano, como medida estratégica para conter a escalada da inflação, que no momento tem preocupado a sociedade brasileira de um modo geral e em particular a população mais pobre pois estes têm menos acesso a instrumentos financeiros para se defender da elevação generalizada dos preços.


                Apesar do fato, incontestável, de que a economia brasileira vem surpreendendo os analistas ao apresentar, anualmente, um crescimento do PIB acima das previsões prévias, esta mesma performance tem sido responsabilizada pelo processo inflacionário acima da meta, definida em 3%, com uma tolerância de 1,5 pontos percentuais, para cima ou para baixo. Em outras palavras, com o crescimento do PIB, alega-se que a elevação generalizada dos preços, especialmente no setor de alimentos, é o resultado da pressão da demanda sobre a oferta. Ou seja, a inflação brasileira seria, então, uma inflação de demanda. Ora se é uma inflação de demanda, para desincentivar essa demanda necessário seria o aumento da taxa de juros básica como medida adequada pois, desestimularia o consumo das famílias e, dificultando o financiamento da produção, reduziria a demanda das empresas, ao mesmo tempo em que forçaria o governo a conter o seu processo de endividamento, reduzindo a demanda do setor público.


                No entanto, um olhar atento e cuidadoso sobre a economia brasileira nos mostra uma economia que, para manter o nível do emprego, o crescimento da demanda agregada, a manutenção da massa salarial e, consequentemente, o PIB em crescimento, tem utilizado uma política fiscal de estímulo à demanda, baseada na transferência direta de renda às famílias mais pobres, superando as dificuldades impostas pelas adversas condições climáticas, pela depreciação do câmbio e pelas elevadas taxas de juros impeditivas de novos investimentos necessários à formação de capital fixo, bem como impeditivas, também, de investimentos em novas tecnologias capazes de elevar a produtividade do setor produtivo.


                Apesar de que todos esses estímulos possam indicar uma pressão de demanda sobre a oferta, na verdade o que nos indica é que está havendo um diagnóstico equivocado da economia e, por ser equivocado, o uso da elevação da taxa de juros básica, como o remédio a ser administrado, não é o adequado pois, em vez de resolver o problema terminará por sufocar, principalmente, o setor urbano, diminuindo a renda e aumentando o desemprego, logo, abrindo as portas do inferno de um processo recessivo com inflação, também, conhecido como Estagflação[i].


                Os alimentos, é verdade, têm sido um dos responsáveis pela inflação, porém, não porque tenham sumido das gôndolas dos supermercados ou das bancas das feiras, ou seja, não porque estejam em falta, mas porque, principalmente, por conta da elevada taxa de câmbio que encareceu os fertilizantes importados e utilizados na agricultura de alimentos. Isto é aumento nos custos de produção.


                Outro exemplo do efeito do câmbio no preço dos alimentos é o caso do ovo cujas principais matérias primas utilizadas na alimentação das galinhas são o milho e a farinha de soja, dois produtos agrícolas incentivados pela valorização do dólar americano em relação ao real. Essa valorização estimula a exportação reduzindo a oferta no mercado interno e, consequentemente, aumentando os respectivos preços aos quais os criadores de galinhas compram. Isso é aumento no custo de produção.


                Também no aumento dos custos de produção dos produtos industrializados é facilmente percebido o papel desempenhado pelo câmbio apreciado, pois todos os insumos importados tiveram os seus respectivos preços majorados, principalmente aqueles em que o Brasil é altamente dependente, tais como as matérias primas para as indústrias de mecânica e química fina. Isso é aumento no custo de produção.


                Dois outros elementos responsáveis pelo aumento nos preços são os combustíveis e a energia elétrica, que são produtos cujos preço são administrados. O aumento no preço dos combustíveis, que são influenciados pela cotação internacional, não é difícil deduzir, aumenta, principalmente, o custo de transporte das mercadorias, que será transferido para o consumidor, enquanto o preço da energia elétrica é parte importante no custo de produção de todos os setores da economia. Isso é aumento no custo de produção.

                Portanto, tomar decisões de política econômica baseadas em diagnósticos equivocados é impor à sociedade, principalmente aos mais pobres, sacrifícios desnecessários e injustos, pois só favorece aos mais ricos e poderosos que dispõem de instrumento de defesa, enquanto aos mais pobres sobrará apenas o peso da crise: desemprego, falta de moradia, fome e desassistência nos serviços públicos básicos como educação, saúde e transporte.


[i] Estagflação é um fenômeno econômico que ocorre quando um país tem inflação alta e desaceleração da atividade econômica. É uma combinação de fatores que pode ser muito prejudicial para a economia.

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