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Espiritualidade e sinodalidade


Por Pe. Paulo Henrique da Silva 

Professor de Teologia


O que é espiritualidade?

“O sacerdote [e o cristão] de hoje deve ser um que sabe rezar de maneira pessoal. A capacidade de rezar não deveria ser uma ocupação setorial na sua vida, mas sim, uma estrutura fundamental da sua existência, pois ele é, de fato, aquele que deveria aceitar sempre e viver de maneira realmente livre a irrupção do mistério absoluto na vida de cada homem e a própria orientação a ele” (Karl Rahner. Espiritualidade sacerdotal do ponto de vista do ofício, 235).


Vocação universal à santidade

A Igreja, no Concílio Vaticano II, afirma que todos os batizados e batizadas têm uma vocação universal à santidade. Na Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, número 39, afirma que:  1) A Igreja é santa, isto é, “Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito o único Santo» (120), amou a Igreja como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cf. Ef 5, 25-26)”; 2) A santidade é para todos. “todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1Ts 4,3; cf. Ef 1,4)”; 3) A graça do Espírito Santo produz frutos nos fiéis. Esta graça é o próprio Espírito Santo presente em cada um daqueles que são marcados com a unção do Batismo; e são chamados à perfeição da caridade, com a edificação do próximo; 4) Ela se manifesta na prática dos conselhos evangélicos. Pelos votos de pobreza, castidade e obediência, os religiosos vivem a santidade da Igreja;


Na Constituição sobre a Liturgia, Sacrosanctum concilium 2, falando sobre a liturgia na vida dos fiéis cristãos, afirma que nele exprime na vida e manifesta aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo.


Espiritualidade missionária

O caráter missionário da Igreja, que surge da obediência ao mandamento de Cristo: «Ide, pois, ensinai todos os povos» (Mc 16, 15) estende-se a todo o Povo de Deus; este assume, com Paulo, o múnus decorrente do sacerdócio real comum e do profetismo recebido no Batismo: «Ai de mim se eu não evangelizar!» (1Cor 9, 16). Cabe, portanto, ao Povo de Deus – clero, religiosos e leigos – assumir juntos e na Igreja, por força dos seus dons e carismas próprios, a missão de evangelizar e levar aos confins da terra a Boa Nova de Jesus, e construir, no aqui e agora do nosso tempo, o verdadeiro Reino de Paz e de Amor, o Reino dos Céus, o Reino de Deus que Jesus iniciou com a sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição (LG 17). Afirma Papa Francisco que a evangelização é um dever de toda a Igreja, pois todos somos discípulos missionários: em virtude do Batismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (EG 120). Que todos possam se deixar contagiar pela alegria do Evangelho. Uma alegria que se renova e comunica, isto é, ela enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus Cristo (EG 1).


O apelo do Papa é o de conscientizar os cristãos a que renovem o seu encontro pessoal com Jesus Cristo e comuniquem a todos a alegria da amizade com Jesus Cristo. Todos são convidados para isso. Ninguém está excluído da alegria trazida pelo Senhor (EG 3). Uma alegria que se renova a cada momento, que perdoa, que confere um amor infinito e inabalável.

 

Sinodalidade – o que é?

“Sinodo”  é palavra antiga e veneranda na Tradição da Igreja, cujo significado retoma os conteúdos mais profundos da Revelação. Composta pela preposição σύν, com, e pelo substantivo ὁδός, via, caminho, indica o caminho feito junto pelo Povo de Deus. Envia, portanto, ao Senhor Jesus que apresenta a si mesmo como «o caminho, a verdade e a vida» (Gv 14,6), e ao fato que os cristãos, seus seguidores, são chamados  «os discipulos do caminho» (cfr. At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22).


Sinodalidade – dimensão constitutiva da Igreja

Um Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar «é mais do que ouvir». É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o «Espírito da verdade» (Jo 14, 17), para conhecer aquilo que Ele «diz às Igrejas» (Ap 2, 7). São João Crisóstomo: «Igreja e Sínodo são sinónimos». O primeiro nível de exercício da sinodalidade realiza-se nas Igrejas particulares; O segundo nível é o das Províncias e das Regiões Eclesiásticas, dos Concílios Particulares e, de modo especial, das Conferências Episcopais; o último nível é o da Igreja universal


Sinodalidade como caminho da espiritualidade cristã

A sinodalidade dá o toque de toda espiritualidade cristã. Ela é espiritualidade litúrgica – participando na celebração do Altar, fonte de comunhão com a Trindade e com a comunidade; é espiritualidade do serviço – somos servidores da comunidade, espaço de sinodalidade; o cristão deve “caminhar junto” com a comunidade; é uma espiritualidade sinodal – a partir seja da “igreja doméstica”, seja dentro do espaço pastoral, no respeito aos instrumentos de comunhão e de sinodalidade: Arquidiocese, Vicariato, Zonal, Paróquia, pastorais, movimentos, serviços, conselhos. Por fim, é uma espiritualidade do encontro – especialmente do “encontro com Jesus Cristo” = dinâmica própria da sinodalidade. Nenhuma espiritualidade “privada”, portanto, deverá ser sempre na comunhão que se alimenta e se fortalece.

 

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