Por Pe. Paulo Henrique da Silva
Professor de Teologia
Nos próximos quatro domingos a Liturgia da Palavra nos apresentará, no Evangelho, o capítulo 6 do Evangelho segundo São João, com exceção do domingo 18 de agosto em que vamos celebrar a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O capítulo 6 do Evangelho de São João apresenta o longo discurso de Jesus chamado de o “discurso do Pão da Vida”. No trecho indicado para hoje temos a multiplicação dos pães. Ele é como o pano de fundo através do qual Jesus insere tal discurso. Vemos claramente que se trata de um ensinamento que lembra o significado da Eucaristia, Pão vivo descido do céu e que é dado à Igreja para que dela viva e ela a realize para alimentar os batizados e batizadas.
Há um caso semelhante no Antigo Testamento, acontecido na vida do profeta Eliseu. Eram apenas 20 pães para 100 pessoas. O milagre acontece conforme a palavra do Senhor. A ação se dá não por mágica, mas como fruto da compaixão divina. Também mostra que Deus estava agindo por meio do profeta e os milagres corroboram a sua ação. O ensinamento proveniente do milagre feito por Eliseu leva-nos a glorificar o Senhor, com o salmista: “Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem”.
A ação de Jesus no Novo Testamento, a nova aliança no seu sangue, a redenção operada por meio de sua Cruz e Ressurreição, colocam o novo Povo de Deus que é a Igreja, num caminho de unidade. Corpo, Espírito, esperança, Senhor, fé, batismo, Deus e Pai. Palavras encontradas na carta de São Paulo aos Efésios, que indicam a realidade de nossa vida como discípulos e discipulas de Jesus. A unidade manifesta a riqueza de significado dessas palavras. Em todas elas encontramos elo de relação de Deus conosco e de relação entre nós, irmãos e irmãs.
Podemos afirmar que é a Eucaristia que proporciona a vivência da unidade. Por meio dela nós que somos muitos formamos um só Corpo. Somos o Corpo de Cristo, Ele é a Cabeça e nós os membros. Porque vivemos unidos à Cabeça recebemos dele o Espírito, o único Espírito, o Espírito do Pai e do Filho, aquele que é a garantia da unidade, pois onde Ele está presente se realiza a comunhão com Deus. Cristo como Cabeça é o autor de nossa esperança e de nossa fé, cujo objeto é sempre o único Senhor, Salvador e Libertador, aquele que nos marca com o selo do Espírito, lavando-nos no banho da regeneração que é um só, o Batismo. O destino de nossa vida, a meta da nossa peregrinação é sempre a comunhão com o Pai. Ele reina, age e permanece sobre todos, por meio de todos e em todos. Tal ação não é produto nosso, mas somos destinados a participar de seu reinado, de sua ação e de sua presença totalizante e que leva tudo à perfeição e à plenitude.
Por fim, uma última reflexão. No Evangelho vemos que tanto Felipe quanto André apresentam dificuldades para Jesus – parece que eles fazem tudo depender de cálculos – mesmo se tivesse duzentas moedas ainda não bastariam, e ainda: o que são cinco pães e dois peixes para alimentar, não cem, mas cinco mil. Mas, ao contrário deles, Jesus não faz cálculos, mas “Eucaristia” – Jesus tomou os pães e “deu graças” (em grego: eucaristhsaV). Daí vem o nome da Missa, Eucaristia, ação de graças. Fazendo cálculos chegamos a ver a Eucaristia como um prêmio para o resultado de nossos cálculos. Mas, “a Eucaristia [...] não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos” (FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 47).
Aprendamos, pois, a fazer menos cálculos e façamos [mais] Eucaristia. Aprendamos a reconhecer que o Senhor está conosco, e na Eucaristia que celebramos Ele nos faz experimentar, já agora, os bens eternos. Não esqueçamos, Ele se dá a nós gratuitamente, graciosamente, e nos faz agir da mesma forma para com os nossos irmãos e irmãs.