Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal
Em sua Mensagem para o 58º Dia Mundial da Paz, celebrada em 1º de janeiro de 2025, o Papa Francisco aborda a necessidade de reconciliação e transformação espiritual e estrutural, com o tema: "Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz". Este chamado ecoa em sintonia com o Ano Jubilar de 2025, "Peregrinos de Esperança", tempo de graça e de renovação espiritual e social.
A mensagem do Papa Francisco amplia o conceito de paz para além da ausência de conflitos, compreendendo-a como um equilíbrio dinâmico entre justiça, perdão e inclusão. Ele relaciona a paz à libertação das “estruturas de pecado” e ao rompimento das correntes de desigualdade e exploração, propondo transformações culturais e estruturais duradouras. O Papa também destaca o conceito de uma "paz inquieta", que exige ação constante e compromisso com o bem comum. Tal conceito está ligado a um coração "desarmado", que supera o egoísmo e se compromete com a solidariedade.
“Procuremos a verdadeira paz, que é dada por Deus a um coração desarmado. [...] Desarmar o coração é um gesto que compromete a todos, do primeiro ao último, do pequeno ao grande, do rico ao pobre. Por vezes, é suficiente algo simples como ‘um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito’. [...] Com efeito, a paz não vem apenas com o fim da guerra, mas com o início de um mundo novo, um mundo no qual nos descobrimos diferentes, mais unidos e mais irmãos do que poderíamos imaginar” (Papa Francisco, Mensagem do 58º Dia Mundial da Paz, n. 13-14).
Inspirado na tradição bíblica, o Jubileu é um tempo de graça, reconciliação, perdão e restauração da justiça e da paz. No Antigo Testamento, o toque da trombeta (yobel) marcava um período de libertação para os pobres e marginalizados (Levítico 25:10-14). Em 2025, o Papa chama a humanidade a escutar o “grito desesperado” dos pobres e da terra, unindo-se ao clamor por justiça social e ambiental. A mensagem destaca a interligação entre a dívida externa e a dívida ecológica, pedindo um compromisso com a solidariedade global.
Francisco propõe uma profunda mudança cultural, na qual a gratidão se torna um elemento-chave para reconhecer os dons de Deus e combater a lógica da exploração. A falta de gratidão leva o homem a ignorar os dons divinos e a perpetuar desigualdades. Como alternativa, propõe uma "economia do perdão", na qual as nações ricas perdoem as dívidas externas dos países pobres, enquanto reconhecem e atuam sobre a dívida ecológica acumulada. Além disso, a conversão pessoal e comunitária é apresentada como fundamental para superar desigualdades e injustiças.
Para trilhar o caminho da esperança, o Papa Francisco propõe três gestos concretos: estabelecer um compromisso com a justiça econômica global por meio da solidariedade e do perdão da dívida externa dos países pobres; abolir a pena de morte como afirmação do valor inalienável da vida humana e da possibilidade de redenção; e criar um fundo global para erradicar a fome, redirecionando recursos usados para armamentos em projetos humanitários e educacionais que combatam a desigualdade e as mudanças climáticas.
A Mensagem para o 58º Dia Mundial da Paz e o Ano Jubilar de 2025 convergem em um apelo à conversão pessoal e comunitária. O Papa nos desafia a desarmar nossos corações, escutar o grito dos pobres e agir com generosidade, construindo um mundo baseado na justiça, paz e esperança. É um convite para viver o Ano Jubilar como verdadeiros "peregrinos de esperança", respondendo ao chamado divino para renovar o mundo.