Monsenhor Valdir Cândido de Morais foi nomeado reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma. A nomeação foi feita pelo Dicastério para o Clero, da Santa Sé. O documento, assinado pelo prefeito da Congregação, Cardeal Lazzaro You Heung Sik, define que Mons. Valdir deve assumir a função, a partir de primeiro de julho próximo, para um mandato de três anos. O anúncio da nomeação foi feito no último dia 16 de abril, por ocasião da 61ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP).
Nesta entrevista concedida à assessoria de imprensa da assembleia geral dos bispos, ele fala sobre a realidade, os desafios e a importância do Colégio para a Igreja Católica, no Brasil.
Qual é a sua visão para o futuro do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, considerando sua longa história e sua importância para a Igreja Católica no Brasil e para a formação de padres?
Considerando que o Colégio Brasileiro celebrou seus 90 anos de história, é crucial preservar essa trajetória enquanto respondemos às demandas do presente. A visão para o futuro do Pio Brasileiro é continuar sendo uma instituição vital para a formação de sacerdotes no Brasil, oferecendo oportunidades para que as dioceses enviem seus clérigos para aprofundar seus estudos em filosofia e teologia, tanto em nível de mestrado quanto de doutorado. É essencial preservar a integridade da história do Colégio, considerando que já contribuiu significativamente para a Igreja no Brasil e continua a fazê-lo. No entanto, esse cuidado com o passado não deve impedir o avanço em direção ao futuro. Deus está no controle do futuro, e nós somos instrumentos de Sua graça e amor. Devemos nos ver como operários da vida do Senhor, garantindo que o Pio Brasileiro continue cumprindo seu papel essencial, tanto agora quanto no futuro.
Quais são os principais desafios que você identifica para o Colégio Pio Brasileiro atualmente e como pretende enfrentá-los?
Como ex-aluno do Colégio Pio Brasileiro, vejo que os desafios enfrentados hoje são principalmente estruturais. O colégio, com seus 90 anos de história, é uma parte do Brasil em solo italiano, como disse o Papa João Paulo. A questão da estrutura é crucial, e isso foi reconhecido até pela CNBB. É uma estrutura antiga que requer grandes projetos e recursos financeiros para ser revitalizada. O enfrentamento desses desafios será em comunhão com a CNBB e o Pio brasileiro, buscando conservar e melhorar a estrutura.
Como você planeja manter o equilíbrio entre a tradição e a inovação sendo reitor do Colégio Pio Brasileiro, levando em consideração sua história e as demandas contemporâneas para a formação sacerdotal?
O projeto do Colégio Pio Brasileiro não é apenas meu, mas é uma iniciativa que emerge da assembleia dos bispos do Brasil a cada ano. A tradição centenária da instituição não pode ser perdida, mas também precisamos estar atentos aos sinais dos tempos. O diálogo é essencial para garantir que os padres estejam bem tanto na estrutura histórica da igreja quanto nas demandas atuais. A formação dos seminaristas é um grande desafio, e buscamos harmonizar a identidade e objetivos individuais com as necessidades da igreja no Brasil, preservando nossa história e preparando para o futuro.
Considerando sua experiência como presidente do Conselho de Alunos do Colégio Pio Brasileiro no passado, como você pretende promover um ambiente acadêmico e comunitário favorável ao crescimento pessoal e espiritual dos estudantes?
Uma coisa é estarmos na condição de aluno do Pio brasileiro, outra é estar na condução de formador. E, neste caso, especificamente em função de reitor. O conselho de alunos serve para fazer esta ampla harmonia entre a formação e os alunos. E é claro que não é um sindicato, não se trata disso, mas se trata de um conselho que também deve expressar os seus acessos, seus sentimentos, sobretudo eles que são os moradores oficiais do colégio brasileiro. Eu fui parte do conselho de alunos e depois fui presidente desse conselho. E para promover um ambiente que tenha harmonia, é preciso que todos estejam de certa maneira fazendo a sua parte. Eu não sou reitor sozinho, tenho uma equipe de formadores, o diretor espiritual e o diretor do estudo, que semanalmente se reúnem para refletir sobre os diversos pontos que fazem parte de uma formação ampla na vida dos nossos estudantes. Diante disso, os alunos se reúnem conosco uma vez por mês para expressarem os seus anseios, o que não estão gostando, o que gostariam de melhorar e assim por diante. Assim, pela minha experiência, pretendo promover ambientes favoráveis que sejam possíveis. Quero ser um padre amigo, quero ser um padre próximo, levando em consideração as palavras do Papa Francisco, desta proximidade que devemos ter, sobretudo quando estamos em um ambiente que não é nossa casa. Então, esse será o meu papel, ser um elo entre os alunos e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Diante do papel significativo que o Colégio Pio Brasileiro desempenha na formação de líderes religiosos para o Brasil, como você pretende colaborar com as dioceses brasileiras para garantir uma formação integral e adaptada às necessidades do país?
Isso implica em estar próximo aos bispos, compartilhando informações e cuidando dos sacerdotes enviados para Roma, já que muitas vezes estão distantes do dia a dia das dioceses. Os critérios de seleção dos alunos são fundamentais, pois os bispos confiam ao Colégio Pio Brasileiro a missão de formar seus padres. O projeto acadêmico precisa ser intenso e abrangente, preparando os alunos para corresponder às demandas da realidade brasileira ao retornarem. Meu papel como reitor é ser um instrumento de colaboração, aproximando-me dos bispos e padres, para que possam cumprir bem suas missões pastorais. Assim, pretendo contribuir para que, no futuro, os padres formados pelo Colégio Pio Brasileiro possam responder de maneira eficaz aos desafios da igreja e do mundo contemporâneo.
Como você pretende administrar para manter ou aumentar o número de alunos no Colégio Pio Brasileiro, considerando o crescimento significativo observado durante a 61ª Assembleia Geral da CNBB em comparação com os dados anteriores, quando se discutia a preocupação com o número de alunos brasileiros?
Para manter ou aumentar o número de alunos no Colégio Pio Brasileiro, pretendo continuar minha missão de dialogar e refletir com os bispos, como discutido durante as Assembleias Gerais da CNBB, levando em conta os dados anteriores. Reconheço que o colégio é uma propriedade da igreja brasileira e que é essencial envolver os bispos na missão de enviar sacerdotes para estudarem lá. Com o apoio da CNBB e a compreensão da importância dessa causa, acredito que podemos alcançar mais de 100 alunos, contribuindo assim para a formação e manutenção do colégio. Estou comprometido em aproveitar as oportunidades de contato com os bispos para cumprir meu papel nesta dinâmica.
Como pretende fortalecer a identidade brasileira do Colégio, mantendo sua relevância como um “pedacinho do Brasil em Roma”, conforme expressou o Papa São João Paulo II?
É fundamental preservar nossa identidade brasileira, mesmo ao nos inserirmos em uma língua estrangeira para responder ao mundo acadêmico. Internamente, essa identidade é muito forte, com nossos costumes e tradições. Pretendo fortalecer essa identidade, baseando-me em minha experiência como presidente da comissão para o social no Pio brasileiro, onde promovia momentos de entretenimento e valorização da identidade brasileira. Também vivenciei a importância da cultura brasileira em um ambiente multicultural, destacando-se entre nacionalidades diferentes. Assim, desejo tornar cada vez mais visível o Brasil como um “pedacinho do Brasil em Roma”, favorecendo momentos que preservem essa identidade, sem esquecer que estamos em outro país, mas valorizando nossa cultura, tradição e valores intrínsecos aos brasileiros.
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