Diác. Paulo Felizola
Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta
Ao afirmar, em artigo intitulado “O Banco Central e o Quinto Mandamento”, que a política de juros altos, imposta pelo Banco Central do Brasil, afronta o quinto mandamento, espero ter deixado claro que esse assunto é de muita importância para o desenvolvimento da pastoral de nossa Igreja, pois afeta, sobre maneira, a vida do povo e em especial do pobre, contrariando o projeto de Deus, encarnado em Jesus Cristo, na medida em que promove a morte em detrimento da vida, que deve ser vivida na justiça e no direito.
No dia 01 do corrente mês de outubro, a imprensa noticiou que a agência de avaliação de risco Moody’s[i] havia elevado a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva. Ou seja, agora, o país está a um passo do chamado grau de investimento[ii]. Para essa nova avaliação a agência fez os seguintes destaques:
Melhora significativa no crédito do país: Devido ao desempenho robusto do crescimento do PIB e o histórico recente de reformas econômicas e fiscais.
Compromisso do governo com a meta fiscal: A agência reconheceu o esforço do governo em manter as contas públicas sob controle.
Expectativa de estabilização da relação dívida/PIB: A Moody’s projeta que a dívida pública brasileira se estabilizará em torno de 82% do PIB no médio prazo.
Como não poderia deixar de ser, esse relatório derrubou os juros futuros, desvalorizou o dólar e provocou uma alta na bolsa de valores, ao mesmo tempo em que apontando para a possibilidade de o Brasil alcançar o grau de investimento, aponta para a viabilidade de o país receber novos investimentos estrangeiros, principalmente investimentos produtivos e, com a estabilização da dívida pública, possa ser um porto seguro para os fundos internacionais que, assim, estarão estimulados a adquirir títulos do Tesouro Nacional.
Não é preciso ir mais longe para vermos comprovado que o cenário construído pelo Banco Central do Brasil e utilizado para justificar a política monetária de juros elevados visando conter a inflação, quando confrontado com o relatório da Moody’s, não condiz com a realidade brasileira. É certo que a economia está aquecida, o que pode ser comprovado pelo crescimento do PIB acima do que havia sido projetado no início do ano, mas não é correto afirmar que esse aquecimento foi resultado da gastança do setor público, tendente ao descontrole da política fiscal, que agravaria, assim, a relação dívida/PIB.
Sem embargo, fica demonstrado que o objetivo da autoridade monetária brasileira, com a decisão tomada na 265ª reunião do COPOM, não foi, simplesmente, resfriar a economia, contendo o gasto público pela elevação dos juros, mas viabilizar uma maior apropriação do crescimento da renda nocional por parte do capital financeiro especulativo, que nada produz, portanto não contribui para o crescimento da renda real e nem com a redução do desemprego, mas, contrariamente, aumenta a pobreza, a miséria a fome e a morte do pobre, na medida em que desemprega, pois paralisa a indústria e o comércio, inviabilizando investimentos e o crédito. Da mesma forma, imobiliza o setor público, que vê o serviço da dívida pública aumentar, assim como a pressão por maiores subsídios, principalmente, para o setor rural e por redução e contingenciamento dos gastos com os programas e projetos sociais, que visam dignificar a vida dos mais necessitados.
Por tudo isso, diante do exercitar da ortodoxia econômica, não devemos ficar calados, vendo a banda passar. Vamos fazer comunhão com o Papa Francisco e dizer não a essa ideologia que exclui, que descarta e que mata em nome do mercado divinizado, para quem, para viver sob o sue regime não é preciso amar, mas estar sempre na busca da realização de seus interesses pessoais de riqueza e poder.
[i] A Moody’s é uma das mais famosas e influentes agências de classificação de risco do mundo, ao lado da Standard & Poor’s e da Fitch Ratings. Também conhecidas como agências de rating, elas têm a missão de avaliar e classificar produtos financeiros de países, governos ou empresas, de acordo com o grau de risco dessas instituições. (https://capitalresearch.com.br/blog/moodys/)
[ii] O grau de investimento representa um país ou empresa com baixa probabilidade de calote