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Naquele que me fortalece (Fl 4, 13)


Pe. João Gabriel

Presbítero da Arquidiocese de Natal – Doutorando em Teologia, em Roma



A «porção do povo de Deus» - como assim é definida uma Diocese pelo Concílio Vaticano II - que está no território da Arquidiocese de Natal, recebe com festa e esperança, a notícia de que o Papa Francisco escolheu Dom João Santos Cardoso, como o seu sétimo Arcebispo Metropolitano. O Catecismo da Igreja Católica n. 77, citando a Constituição Dei verbum, afirma que os Bispos são os sucessores dos Apóstolos: «Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles “transmitindo o seu próprio encargo de Magistério”». O episódio da eleição de Matias (Cf. At 1, 15-26), atesta que a Igreja logo reconheceu a necessidade de que outros homens fossem escolhidos, para continuarem dentro da comunidade eclesial, o ministério apostólico.


Embora recebam do Senhor o mandato de ensinar, santificar e governar, a Constituição Lumen gentium recorda que «os ministros que são revestidos do sagrado poder servem a seus irmãos para que todos os que formam o povo de Deus e portanto gozam da verdadeira dignidade cristã, aspirando livre e ordenadamente ao mesmo fim, cheguem à salvação» (n. 18). De fato, como afirma a mesma Constituição, «ainda que alguns por vontade de Cristo sejam constituídos mestres, dispensadores dos mistérios e pastores em benefício dos demais, reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo» (n. 32). Santo Agostinho resume bem essa doutrina, com sua famosa afirmação: «Se me amedronta o que sou para vós, consola-me o estar convosco. Para vós sou Bispo; convosco sou cristão. Aquele é nome de ofício, este o da graça». Sendo assim, o Bispo não está acima da Igreja, como um patrão ou comandante, mas é um «batizado entre os batizados», como afirma o Papa Francisco.


Dentre outras particularidades da importância do ministério episcopal na Igreja, como expressa Lumen gentium n. 23, é que o Bispo, em sua Diocese, é «o visível princípio e fundamento de unidade». Já Santo Inácio de Antioquia traduzia com uma bela analogia, a consciência da necessidade eclesial de unidade com o Bispo: «Convém caminhar de acordo com o pensamento de vosso bispo, como já fazeis. Vosso presbitério, de boa reputação e digno de Deus, está unido ao bispo, assim como as cordas à cítara. Por isso, no acordo de vossos sentimentos e na harmonia de vosso amor, vós podeis cantar a Jesus Cristo. A partir de cada um, que vos torneis um só coro, a fim de que, na harmonia de vosso acorde, tomando na unidade o tom de Deus, canteis a uma só voz, por meio de Jesus Cristo, um hino ao Pai». Essa comunhão com o próprio bispo é assim tão necessária, que o mesmo Santo Inácio afirma: «Sem o bispo, ninguém faça nada do que diz respeito à Igreja. Considerai legítima a eucaristia realizada pelo bispo ou por alguém que foi designado por ele. Onde está o bispo, aí esteja o povo, do mesmo modo onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja católica».


É, portanto, neste espírito de comunhão eclesial, que nossa Igreja arquidiocesana, banhada pelo sangue dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçú, deseja acolher nosso novo Pastor, confiando sua vida e ministério aos cuidados maternos de Nossa Senhora da Apresentação. Na certeza que «quem recebe aquele que eu enviar, é a mim que recebe» (Jo 13, 20), queremos ser um terreno fecundo, para que dom João possa viver entre nós seu lema episcopal: «Naquele que me fortalece» (Fl 4, 13).

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