Por Pe. Paulo Henrique da Silva
Professor de Teologia
A missão dos Doze, antes de que aconteça Pentecostes, mostra-nos que Jesus queria já compartilhar com eles de sua missão. Era como um “ensaio”, pois propriamente a missão da Igreja começa com o envio do Espírito Santo, o que se dá depois da Ressurreição de Jesus. A missão é sobretudo a proclamação de que Deus sempre abençoou, escolheu, predestinou para sermos filhos adotivos, para sermos o louvor da sua glória e da graça, destinados à libertação pelo sangue que o Filho derramou na Cruz, sermos perdoados para que a graça seja derramada profusamente em nós, feitos conhecedores da vontade divina, do seu desígnio benevolente, para levar tudo à plenitude e recapitular tudo em Cristo, e nós, hoje, recebemos a nossa parte: somos predestinados a ser o louvor de sua glória. Ainda, somos constituídos ouvintes da palavra da verdade, marcados com o selo do Espírito.
Enviando os Doze em missão Jesus recomenda como deve ser feita. Sem cairmos em anacronismos, pois os tempos são outros, porém, tais recomendações são modelo e paradigma de toda missão. Que sentido tem para nós essas recomendações? Como observá-las hoje? É possível impostar a missão tendo presente tais recomendações? Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que Jesus não envia em missão sem antes ter chamado. Isso quer dizer: a missão é preparada com o Discipulado. Ser missionário está precedido do ser discípulo. Certamente, não se pode ser discípulo sem se tornar missionário. Mas, ninguém é missionário sem ser antes discípulo. Por isso, antes de enviá-los em missão, Cristo lhe dá o poder sobre espíritos impuros. Porque estavam unidos a Cristo eles estavam em condições de afastar o mal demoníaco. Para nós, hoje, mesmo que a Igreja tenha o ministério do exorcismo, se compreende que quem segue Jesus se torna unido ao Espírito Santo, e onde está o Espírito de Deus não está presente o espírito impuro. Como isso acontece? A comunhão com Jesus nos dá a força para vivermos na bem-aventurança, no cuidado com os sofredores, na atitude de respeito ao outro, na humildade e simplicidade, na não desistência da missão diante das dificuldades, dos apelos, das dissonâncias, da polarização que afeta tanto as relações, e às vezes até diante do cansaço, do desânimo e da dificuldade que temos de fazer um autoconhecimento para melhorar nossas reações.
O Senhor não nos chamou para sermos soberbos, arrogantes ou prepotentes. Trata-se de reconhecer que recebemos um grande bem, uma extraordinária grandeza de revelação. Ser chamado para seguir Jesus não nos coloca num caminho de sucesso, de poder ou êxito mundano. Ele nos chama a segui-lo, carregando a Cruz, isto é, assumindo a sua vida, o seu Evangelho, e imitando o seu agir, de modo especial, vivendo o seu Mandamento do amor aos irmãos e irmãs. E para viver assim, Ele nos dá a graça, e isso nos basta.
No livro do profeta Amós ele é questionado para não realizar sua missão onde o Rei se encontrava. A sua resposta nos ajuda a reconhecer que não se pode colocar barreiras ao chamado de Deus e à missão dada por ele. Deus diz para nós hoje: “Vai profetizar, em Natal, na tua empresa, no teu emprego, na tua escola, no esporte, no lazer, onde encontro meu povo”. Pois, seria um pecado não reconhecer que hoje, aqui e agora, Deus continua agindo e pondo em prática o seu plano. Se conseguimos ver no hoje de nossa história a ação do mal que nos leva ao pecado, de modo muito superior devemos reconhecer a ação da graça que nos coloca na execução da vontade de Deus. E assim, como aconteceu com Amós, como foi experimentado pelos Doze, especialmente quando receberam a força do alto, em Pentecostes, também hoje somos chamados a proclamar que Deus, em Jesus Cristo, continua a agir em nosso favor e conduzindo-nos à plenitude de sua vontade.