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Pastoral do Acolhimento e Inclusão


A Igreja é Mãe e Mestra (S. João XXIII). Essa predicação precisa ser traduzida em palavras e ações, com a formação de uma cultura de encontro e o testemunho de misericórdia (Papa Francisco), que pode ser a marca registrada de uma Igreja que está inserida historicamente na vida do povo e atenta aos sinais dos tempos. Por isso, todas as suas forças vivas são chamadas a ser acolhedoras e inclusivas. Essa é a postura do seu fundador, Jesus Cristo. Basta que leiamos e nos convertamos ao Evangelho. O processo pastoral espera que saiamos de uma ação evangelizadora de manutenção para um estilo novo, tendo em vista a conversão ao “estado permanente de missão” (cf. P. Francisco, EG, 25). As estruturas eclesiais necessitam desta transformação no mundo e, considerando a cultura contemporânea, precisa lançar-se sempre às águas profundas da realidade e da condição humana.


O reconhecimento do Outro como pessoa, que é criada para amar e ser amada, viver em comunidade e ao serviço dos demais irmãos e irmãs, é a atitude de quem é cristão e humanamente integrado. A inclusão do diferente e das diferenças não é uma postura que nega a nossa identidade. Muito pelo contrário. Quem mais reconhece o outro, mais afirma-se como ser de consciência e de responsabilidade. As nossas relações humanas precisam ser comprometidas com o bem e a dignidade dos demais irmãos e irmãos. O individualismo hipermoderno é doentio e desumano. Na atualidade, muitas formas de construção identitária, vivências optativas e realidades marcadas por violências físicas e verbais estão a bater em nossas portas, famílias e nas demais ordens sociais sistêmicas. Faz-se mister que as sociedades sejam abertas para o acolhimento do outro nas suas diferenças culturais e dinâmicas sociais. Para isso, somos desafiados cotidianamente a viver o testemunho da fraternidade e da amizade social. Por ele, podemos e somos vocacionados a construir uma ‘civilização do amor’ (S. João Paulo II).


Nas nossas comunidades eclesiais o acolhimento é o estilo próprio de todos os discípulos e missionários de Jesus Cristo. A inclusão social das diferenças é a meta a ser alcançada para que possamos falar de povos civilizados e culturalmente evoluídos: Os doentes, os pobres, os estrangeiros, as adúlteras, os aidéticos, os leprosos, os negros, os abandonados, sem teto etc. Todos os que estão nas periferias geográficas e existenciais, como tanto nos lembra o Papa Francisco. No sermão das bem-aventuranças, tanto de Mateus, quanto de Lucas, está declinado quem são os atores e quem são os sujeitos deste acolhimento e integração social (cf. Mt 5,1-12; Lc 6, 20-23). Tomadas as duas tradições, podemos assumir a dimensão pessoal e a social que exigem a permanente responsabilidade e empenho de todos.


A hermenêutica que aborda conjuntamente os evangelhos, também nos leva à percepção de que o modo de operar do Messias não O fazia renegar a verdade do evangelho (cf. Jo 8, 1-11). A conversão sempre era necessária na evolução performativa de quem com Ele fazia a experiência, O conhecia, era tocado por suas palavras e gestos. A fé e a mudança de vida são critérios permanentes no processo que deve envolver a existência cristã na sua totalidade. Os pobres e abandonados podem ser aqueles que vivem na miséria social, como também aqueles que vivem a miséria espiritual tão presente nas realidades sociais hodiernas, nas quais a negação de Deus, pela absolutização de ‘outros deuses’, é mais comum do que se pensa e se entende.


Seguindo esse raciocínio e perspectiva, somos levados a considerar a urgência e a narrativa de que todos os serviços, pastorais, movimentos e células vitais das comunidades eclesiais precisam ser acolhedores e promotores da inclusão social. A sinodalidade e uma ‘ecologia pastoral’, ou pastoral de conjunto, são vias que nos apoiam nessa direção. A Igreja no Brasil tem um caminho já bem alicerçado nestas dinâmicas. Desde os anos sessenta, com a construção de planos pastorais de conjunto pensados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, já na ordem sistêmica construída pelas motivações que proporcionaram o Concílio Vaticano II, que como lembrará São João XXIII no discurso de abertura deste evento sinodal, terá na ‘misericórdia o seu estilo para a consecução do diálogo com a cultura moderna e o avanço pastoral de uma Igreja que é, por sua natureza, vocacionada a ser Sacramento Universal de Salvação.


O Papa Francisco, já na “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), no capítulo VIII, tratando das situações particulares das famílias no mundo de hoje, nos apresenta pistas de ação que podem ser implementadas em outras situações existentes que nos desafiam a práticas pastorais diferenciadas. Precisamos “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”. Todas as situações existenciais e estruturais dos filhos e filhas de Deus devem ter um olhar amoroso e gratuito da Igreja. Onde está o ser humano, em condição de risco e sofrimento, aí é onde a Igreja deve estar. Eis os lugares teológicos a serem tido como referenciais reais para a contemplação de Deus. Tanto na sua totalidade, como formando Equipes Pastorais que cuidem especificamente destas realidades emergentes, a Igreja estará testemunhando, não só com o anúncio, como com atitudes, o estilo próprio de Jesus Cristo. A tradução deste capítulo do magistério de Francisco ainda está a ser processualmente acolhido por muitas forças vivas da Igreja.


Por fim, com as inovações, tanto programáticas, quanto paradigmáticas, portadas pelo ‘estilo missionário e sinodal’ do magistério franciscano, outras exigências pastorais virão à luz para consecução de atitudes mais inclusivas e evangélicas. Colocando no centro o Evangelho, a conversão pessoal e estrutural terá que acontecer e, esta, por sua vez, nos levará à opção preferencial, sem exclusões de categoriais sociais, pelos mais pobres e sofridos da nossa história e realidades sociais. Sejamos fortes e promotores destas mudanças em nós mesmos e nas nossas comunidades eclesiais. Assim o seja!


Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório

Natal-RN

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