Estamos para concluir o Tempo Pascal. Próximo domingo, dia 19, será a Solenidade de Pentecostes e voltaremos para a segunda parte do Tempo Comum. Passados quarenta dias da Páscoa, após ter sido catequisados pelos relatos das aparições do Ressuscitado e lido grandes textos do Evangelho segundo São João, e também os relatos dos Atos dos Apóstolos, podemos fazer a pergunta que o Tempo Pascal nos ajudou a responder: Quem é Jesus? Essa é uma pergunta foi respondida por Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Vimos como Pedro teve a inspiração do alto, do Pai, para poder chegar a essa resposta. Trata-se, portanto, da profunda verdade sobre a identidade de Jesus. Mas, o próprio Jesus continua, quase como que explicando os termos “Messias”, “Filho”, “Deus vivo”.
O Messias, esse título coloca Jesus na missão de receber a unção para evangelizar os pobres, como ele proclama na sinagoga de Nazaré. Tal missão sempre pode ser vista como perigosa. Porque não se tratava somente de dizer coisas sobre os pobres, mas de viver como pobre. Longe dos palácios, longe dos privilégios dos sumos sacerdotes judaicos, longe do poder militar dos romanos, Jesus nasce numa estrabaria, não tem onde reclinar a cabeça, porque o lugar onde reclina a cabeça é a cruz, nem sequer possuía um sepulcro, um membro do Sinédrio, um homem rico, chamado José de Arimatéia, que não compactuou com a injustiça dos outros membros, providenciou sua sepultura. Jesus não é Messias como o guerreiro Davi. Ele não tem um reino e soldados à sua disposição. Os seus seguidores não formam um exército para combater com ele. São pescadores, homens simples. Mas, a sua unção é com o poder do Espírito. Ele tem o Espírito, desde a concepção virginal no seio de Maria, o Espírito está presente, Ele recebeu o Espírito no Batismo no Jordão. E não podia ser diferente: desde a eternidade, como Filho, sempre esteve unido ao Espírito Santo. E esse poder é manifestação do amor de Deus, de sua compaixão. É um amor que manifesta o Deus vivo. Comentando a primeira carta de São João, precisamente naquela definição de Deus por excelência, “Deus é amor” (1Jo 4,8.16), um biblista católico, Rudolf Schnaeknburg (1914-2002), assim afirmou: “Que Deus seja amor em seu ser mais profundo é algo que o autor descobre na atuação divina, e assim no fato singularíssimo de que enviou seu Filho ao cosmo de morte para dar a vida aos homens”; “Deus ama a ponto de entregar o que lhe é mais querido, a fim de salvar os homens. Nesse dar e dar-se a si mesmo, nesse compadecer-se e querer salvar, está o verdadeiro amor, e é justamente esse amor o que constitui a sua essência”; “O Deus da nova aliança é por essência amor misericordioso que tudo dá e que se comunica a si mesmo” (Rudolf Schnakenburg, Comentário às Cartas de São João). O Messias sendo manifestação desse amor, entrega-se à morte, para destruir a morte. Entrega-se a nós para dar-nos a participação em sua glória, glória de Ressuscitado, glória em estar sentado à direita de Deus.
Glória! Trata-se, portanto, não de glórias humanas, isso seria “mundanismo espiritual”, como reflete muito Papa Francisco. É a glória de pertencermos a Cristo, de recebermos a filiação adotiva, a de pensar como Deus e não como os homens. Pedro dá uma resposta diante do destino do Messias que via apenas o fator humano. Santo Agostinho, comentado o Salmo 62, reflete, de forma, eloquente: “Apresentemo-nos, portanto, diante de Deus no santuário, para que ele se apresente a nós; apresentemo-nos a ele com santo desejo, a fim de que ele nos apareça com o poder e a glória do Filho de Deus. A muitos ele não apareceu; estejam no santuário e lhes aparecerá também. Pois, muitos pensam que ele era apenas homem, porque se prega que nasceu como homem, foi crucificado e morreu, andou pela terra, comeu e bebeu, e praticou atos humanos. Pensam que foi igual aos demais homens... (Mas, Ele mesmo diz que virá na glória de seu Pai). Tão grande majestade, tal igualdade com o Pai e desceu até a carne, por causa de nossa fraqueza! Eis como fomos amados, antes de amarmos a Deus! Se antes que amássemos a Deus, fomos tão amados por ele que fez seu Filho igual a si tornar-se homem por nossa causa, que nos reserva agora que já o amamos?
Por Padre Paulo Henrique
Diretor de estudos do Seminário de São Pedro